sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Anamnese

Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. A  partir dos meus dezasseis anos, conheci muitas mulheres , senti algo por todas . Quando lhes lia no rosto um olhar diferente , demorado, deixava-me impressionar e, durante algumas semanas , achava que estava apaixonado e que as amava. Mas depois o tempo. Sempre o tempo como uma brisa. Um aragem suave, mas definitiva, a empurrar-me os sentimentos, a deixá-los lá ao fundo e a mostrar-me na distância que eram pequenos, muito pequenos e sem valor . E sempre só a solidão. Sempre. Eu sozinho, a viver. Sozinho a ver as coisas que não iriam repetir-se; sozinho, a ver a vida gastar-se na erosão da minha memória. Sozinho com pena de mim próprio, ridículo, mas a sofrer mesmo. Nunca me tinha  apaixonado verdadeiramente. Muitas vezes disse amo-te, mas arrependi-me sempre. Arrependi-me sempre das palavras.

José Luis Peixoto
"Uma casa na escuridão"


Lembro-me perfeitamente da primeira vez que disse "Amo-te" a alguém. Arrependi-me! Este excerto fez-me recordar  esse episódio da minha vida (parece-me que foi há uma eternidade, dada a minha nova fase de vida)...

Estava numa fase algo caótica da minha vida, em que tinha consciência que devia mudar e tomar um rumo diferente. Mas não sabia como. Parecia que quanto mais tentava lutar por oportunidades a nível profissional mais perdida me sentia. A vida sentimental era simplesmente vazia. Ainda continha resquícios de uma relação com um final muito azedo e doloroso. Até que apareceu uma certa pessoa... O olhar era demorado, as conversas eram igualmente demoradas tudo era pretexto para estar ali a conversar. Mais do que atracção, aceitei de bom grado (e de forma completamente inconsciente) a atenção que recebia porque simplesmente estava carente.
A prova deste facto veio relativamente pouco tempo depois. Lembro-me que após a nossa milionésima discussão (sim, havia uma espécie de química que tanto nos fazia sentir atraídos um pelo outro, como tão depressa funcionava como potenciador de discussões em que havia acusações de ambas as partes)  e num estado de ansiedade e nervos, disse um "amo-te" algo sumido e trémulo... Simplesmente tinha medo de perder aquela companhia que me fazia rir. 
Senti-em desconfortável quando o disse. Foi aí que soube que ele não era a pessoa certa para mim. E eu não era a pessoa  certa para ele. Reconhecer isto foi um acto racional. Mas a dependência física e emocional prolongou mais a situação. Deixámos de nos falar por completo quando a dor infligida mutuamente atingiu um limite incomportável. Eu queria (e quero!) viver.
Se voltei a dizer essa palavra a essa pessoa mais alguma vez? Não, não fui capaz...

Este foi apenas um episódio da minha vida. Mas com uma importância tal que me fez despertar e tomar consciência de mim mesma e das escolhas que faço... 

Se tudo fosse a preto e branco, as coisas seriam bem mais fáceis de distinguir...









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